A psicológa Juliana Catto Paiuta atende na Clínica LifeClin e desenvolve um trabalho bem legal junto ao Serviço de Medicina Bucal na Unesp em Araraquara . Em um bate papo descontraído, vamos conhecer um pouquinho do seu serviço:
-Dani: Ju, o que te levou a pesquisar essa interação entre psicologia/odontologia?
R: Meu interesse em cuidar da saúde. Muitas pessoas deixam de cuidar da saúde bucal por muitos motivos, por medo dos procedimentos invasivos, pela baixa auto-estima causada por perdas dentais, por negligências, não aceitação de um diagnóstico entre outros fatores. Essas resistências prejudicam muito o tratamento da saúde bucal, ou ainda, muitas vezes não permitem que o tratamento ocorra. O medo de dentista é um mito que precisa ser trabalhado com nossos pacientes, pois interfere em sua saúde emocional e física. Além disso, muitas doenças bucais fazem parte do que chamamos de doenças psicossomáticas, ou seja, quando um problema emocional se transforma em doença física. O tratamento de muitas dessas doenças dependem também do cuidado com os níveis de ansiedade, estresse e depressão, sendo a integração entre psicologia e odontologia fundamental para a saúde de nossos pacientes.
-Dani: Como vc trabalha o medo do paciente em relação ao tratamento odontológico? Existe um acompanhamento, ou após terminado o tratamento odontontólogico ele recebe alta? Existe um número específico de consultas, ou trata-se de um tratamento individual?
R: É preciso explorar as fantasias que o paciente mantém em relação ao tratamento, ao seu diagnóstico, prognóstico e todos os procedimentos realizados, verificando o impacto que esse medo causa em sua vida. Essas fantasias se desmistificam a partir do momento que o paciente pode refletir e dar novos significados aos seus medos. Não trabalho com números específicos de consultas, pois cada caso é um caso, depende das queixas de cada paciente e de sua abertura para o processo psicoterapêutico. A psicoterapia pode ser finalizada com a alta odontológica, porém na maioria dos casos, percebe-se que os pacientes relacionam outras queixas junto ao tratamento odontológico, e essas queixas também devem ser trabalhadas. Podemos citar um caso de um paciente que possui Líquen Plano bucal que além do medo do tratamento possui também um problema familiar que não consegue administrar satisfatoriamente gerando altos níveis de ansiedade e estresse. Não adianta trabalharmos somente os medos desse paciente frente ao dentista ou da doença, mas é necessário trabalharmos os problemas familiares, pois sua doença se agrava frente ao estresse e ansiedade produzida por situações diferentes do contexto odontológico.
-Dani: A procura é maior por pacientes infantis ou não?
R: A maior procura e a maioria dos encaminhamentos feitos por dentistas são de pacientes adultos.
-Dani: Existe alguma coisa que o cirurgião dentista poderia mudar em sua conduta para que os pacientes se sintam mais a vontade no consultório?
R: É preciso ser realizado um tratamento humanizado, o paciente deve ser ouvido e olhado, deve ser considerado como um todo e não como simplesmente mais uma boca. Quando o paciente se sente acolhido a relação de confiança se solidifica e o mesmo poderá expor qualquer medo, dúvida ou angústia. Dessa forma o cirurgião dentista pode esclarecer várias questões do paciente, além de poder perceber se existe a necessidade de um tratamento psicológico integrado.
-Dani: É verdade que existe um medo dos pacientes por usarmos roupas da cor branca?
R: Como disse, cada caso é um caso. A cor branca pode representar traumas de situações hospitalares e odontológicas. Uma vez atendi uma criança de quatro anos que não conseguia entrar no consultório. Em contato com a mãe descobri que a criança havia sido internada aos dois anos por problemas respiratórios, e que a mesma passou por vários procedimentos invasivos, além da mãe não poder acompanhar sua internação por outros motivos. O trauma vivenciado no passado foi revivido ao entrar no consultório odontológico e se deparar com o profissional todo de branco.
-Dani: O bruxismo (ato que atritar uma arcada dentária com a outra), está intimamente relacionado ao estresse?
R: No bruxismo o ato é involuntário, mas algumas pesquisas indicam que os níveis de ansiedade e estresse podem estar associados a ele. O que é muito importante distinguir é se de fato o paciente possui bruxismo ou se tem um tique nervoso que consiste em mordiscar a mucosa oral ou arcada dentária. O tique nervoso está totalmente relacionado ao estresse e ansiedade, e se manifesta em situações conscientes do paciente, já o bruxismo pode ter também outras causas.
-Dani: Muitas doenças e sintomas bucais associam-se a problemas emocionais. Você poderia citar alguns exemplos?
R: Alguns exemplos são os casos de líquen plano, pênfigo vulgar, ardência bucal, aftas, lúpus, etc. Essas doenças se estabilizam mais facilmente quando a depressão, a ansiedade e o estresse são controlados, e podem se agravar e gerar sintomatologias dolorosas quando esses fatores estão alterados.
-Dani: Foi feito algum estudo sobre os resultados obtidos com essa interação de tratamento?
R: Sim, já foram feitos e apresentados vários estudos em congressos, simpósios e seminários. Todos eles apontam para os resultados positivos da interação entre o tratamento odontológico e psicoterápico.
-Dani: Que dicas você deixa para aqueles que se encaixaram no perfil que discutimos aqui?
R: Que é necessário cuidar da saúde como um todo. Não adianta somente cuidar da alimentação, fazer exercícios físicos, cuidar do corpo físico, e não cuidar da saúde emocional e bucal. A qualidade de vida depende do cuidado integral do homem, ou seja, dos seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
Espero que tenham gostado :)
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